"Se vier a ser despedido é injusto e uma imoralidade"

Almerindo acusa pivô de défice de carácter.
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O ambiente na RTP está ao rubro. O mais emblemático pivô da estação, José Rodrigues dos Santos , está em guerra aberta com a administração da empresa, que ontem anunciou, num violento comunicado, que vai avançar com"pro ce dimentos legais" contra o jornalista por este a ter acusado de interferir nas decisões editoriais, em 2004. A tarde na RTP foi agitada, com o pivô e a administração a desdobrarem-se em reuniões com o conselho de redacção e a direcção de informação.

A RTP não concretiza as medidas legais que vai tomar. Ao DN, Almerindo Marques, presidente da estação, escusou-se a antecipar se estas passam por um inquérito ou um processo disciplinar com vista ao despedimento. Já o administrador Luís Marques revelou ao conselho de redacção que foi pedido um parecer jurídico, que será analisado na reunião de hoje da administração.
"Se vier a ser despedido por ter dito a verdade é injusto e mostra o ponto ao que a imoralidade chegou", reagiu ao DN José Rodrigues dos Santos.

Ontem, circulava a informação de que o pivô, que é várias vezes referido no comunicado como "empregado", teria sido suspenso das suas funções, informação negada pelo próprio jornalista e também por fontes da estação. "Não estou a apresentar o Telejornal porque não é a minha semana", disse.
A redacção da estação pública, disse ao DN fonte interna, "está preocupada com a escalada de acontecimentos e com as denúncias" do pivô, receando que estas "possam afectar gravemente a imagem de credibilidade" do canal.


Pivô avisado pelo DN


Quando contactado pelo DN para reagir ao comunicado da RTP, José Rodrigues dos Santos mostrou-se espantado: "Não sei de nada... não sabia do comunicado. Não sei se faz sentido... Vou agora para a RTP." E foi. Mas antes, o jornalista reafirmou todas as acusações feitas anteriormente à administração e reagiu ao comunicado. "É totalmente falso" que tenha pedido "para ser tratado com regime de excepção" face aos restantes jornalistas (como diz a RTP). "A única coisa que pedi foi para não estar sem fazer nada".

Rodrigues dos Santos nega ainda ter mostrado" incomodidade por ter de cumprir horários normais [como alega a RTP]", afirmando: "cumpro os horários que me estipulam de acordo com o trabalho que tenho". A administração faz questão de lembrar que o jornalista mantém o mesmo salário que auferia quando era director de informação, entre 2002 e 2004.

O jornalista não hesita em caracterizar esta atitude da RTP como mesquinha. "Isto é uma tentativa mesquinha de confundir a situação". Mais. O pivô avisa mesmo que a administração está a "atirar pó às pessoas". Ou seja, para o jornalista, a estação está a desviar atenções do "principal problema", que é o de não ter tirado consequências da deliberação da Alta Autoridade para Comunicação Social (AACS), que "concluiu que houve interferências da administração" relativamente à nomeação da correspondente para Madrid.
Também Sebastião Lima Rego, o relator da deliberação da antiga AACS na altura da denúncia do então director de informação da RTP, acusa a estação de estar a lançar "uma nuvem de fumo". "É uma fuga para a frente. O importante aqui é esclarecer o que aconteceu em 2004 e não em 2007. Estes são acontecimentos marginais", disse, referindo-se ao comunicado do canal.
RTP fala em falta de carácter

Confrontado com o facto de Rodrigues dos Santos ter reiterado as acusações de ingerência nas decisões editoriais, Almerindo Marques acusa o pivô de ter "um défice de personalidade e carácter". Mas as palavras duras da administração não se ficam por aqui. Luís Marques disse ao conselho de redacção que a posição do jornalista encerra uma "grave quebra de solidariedade entre um dos principais quadros da empresa e a administração". Este responsável adiantou que o conflito com o pivô "é grave" e "enxovalha a administração".

Amanhã, novos passos serão dados neste caso. Na habitual reunião do Conselho de Administração é certo que este será o assunto dominante. E também a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) não vai fugir ao caso. O presidente, Azeredo Lopes, já disse que não vê necessidade de um processo, mas a sua posição pode sair vencida.

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